terça-feira, 11 de maio de 2010

Noite Feliz

O Natal se aproximava, faltavam exatamente 3 dias para a data mais esperada durante todo o ano por Alice, uma pequena e encantadora garotinha que adorava afirmar que o natal é muito melhor que aniversário ou qualquer outro dia especial.
Manhã do dia vinte e quatro de dezembro. Aquele corre-corre sem fim no apartamento 17 do edifício Rita Cruz. A família toda se preparando para passar o natal na casa de campo do tio Alberto, 120 kilometros longe dos prédios, das buzinas e do trânsito da cidade grande. Nada melhor que o sossego do interior.
Pouco antes de tomarem o rumo da estrada, o pai vai até a garagem conferir se está tudo certo com o veículo. A mãe está no quarto terminando de arrumar as malas e Lucas, o filho mais velho do casal, corre de um lado para o outro de tanta euforia.
- Vamos, vamos! Quero chegar logo a casa do titio.
Estranho! A que mais se empolga com a data, não se econtrava tão euforica quanto o irmão. Alice está sentada em sua cama, com Maria Flor ao colo (sua bonequinha de pano). Concentrada e com o pensamento longe, quem entrasse no quarto poderia jurar que era a expectativa para abrir os presentes de natal.
Todos já estão preparados para a viagem, então pé na estrada. Pouco mais de 2 horas já estão na casa de campo. Lucas desce enérgico, enquanto os pais tiram as malas do carro. Lá está o resto da família, todos felizes se acomodam e se paparicam.
Horas depois preparam a mesa para a ceia, arrumam todos presentinhos ao pé da árvore gigantesta que existe na sala - claro que tudo isso sem despertar a atenção das crianças que brincam no jardim. E como em todos os outros anos, tio Alberto seria o Papai Noel, mas como sempre, só os adultos sabiam, nada de estragar a magica noite das crianças, já pensou se elas descobrem que o bom velhinho não vem todos os anos do Polo Norte, pois ele mora na casa de campo e é o titio preferido e com uma barba falsa. Essa descoberta seria um verdadeiro desastre, sempre estiveram certos disso.
Após a ceia as crianças corriam euforicas pela sala, - Aí vem o papai noel! Isso que gritavam os adultos, se envolvendo na mesma magia. Então tio Alberto, digo, papai noel, entra rapidamente em cena, uma alegria que só... Os pequenos e o bom velhinho gritam insandecidamente, HO-HO-HO FELIZ NATAL. Alice sorri, mas não se anima como as outras crianças. O natal a atrai, a casa de campo também, mas esse ano estava tão calada. Isso era o que toda família conseguia perceber.
Começa a entrega dos presente. As crianças se esmagam, eu quero a caixa maior, eu quero o carrinho de controle, eu quero esse, eu quero aquele, e enfim todos com seus presentes... Na verdade não eram exatamente "todos", o bom velhinho percebeu que restou um ao pé da árvore, olha para cada criança e nota que uma delas ainda está sem seu presentinho, e por mais incrível que aquilo pudesse parecer, era Alice, a pequena mais apaixonada pelo natal.
- Alice querida, venha até aqui, esse é o seu.
A garota dá seus passinhos até a árvore, estende os braços e pega o pacote.
- Vamos, não vai abrir?- Não!
- Mas é seu Alice, pode abrir!
- Esse ano eu não quero o meu presente de Natal... vou dar para a menina que sempre fica na avenida pertinho de casa. - deu um leve suspiro e se calou.
Todos ficaram assustados, a Alice abrindo mão de seu presente?
- Como é o nome dessa sua amiguinha, querida? Se quiser podemos arranjar um outro presentinho a ela, o que acha?
- Eu não a conheço, não sei seu nome, mas tudo bem quanto ao presente, todos os natais ganho, no aniversário e dia das crianças também... então posso dar esse a ela.
- Tem certeza que quer ficar sem presente esse natal?
- Sim, tenho certeza papai noel! - falou com um ar de certeza, olhando fixamente para o bom velhinho.- Mas como vai saber se ela gostará do presentinho?
- Sei que ela irá gostar, pois assim não precisará mais juntar moedinhas todos os dias lá no semáforo para comprar seu presente de natal.
Após ouvirem o que a pequena disse, todos os adultos que estavam na sala ficaram paralizados e só conseguiam pensar em uma coisa o resto da noite; como estaria sendo o Natal do garota do semáforo?


"Há uma certa vergonha em sermos felizes perante certas misérias."

Isabelle Dias

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Esse conto fiz para a seleção do "Desafio dos Escritores", um desafio super bacana que rola todo ano pela internet, é organizado por um pessoal da Literatura de Câmara.
(segue o site: http://literaturadecamara.sites.uol.com.br/).
Fui selecionada, mas só cheguei a elaborar 3 contos e logo fui eliminada (hehe), mas cresci muito com eles, com as dicas dos jurados, e com tudo mais. Deixo aqui meu muito obrigada, e espero ano vem ter o enorme prazer de novamente me ver nesse desafio maravilhoso.