sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Sábio da Montanha

Havia um rapaz que se sentia tão sozinho, até pensava que seu coração era oco. Passava dias e noites tentando entender por que o amor nunca havia o presenteado. Seus amigos diziam assim: - Espere mais um pouco!, e ele? ele só sabia repetir a mesma coisa: - Não, o amor tem que me presentear agora, eu preciso agora. Então o tempo foi passando... seus amigos foram se afastando, pois não tinham sentimentos puros, a verdadeira amizade. E o rapaz de coração oco? ah, ele não ligava mais para o amor. Sua vida era apenas solidão, até parecia que não se importava em viver tanto tempo sozinho e achar que amor era só coisa de novela e belos poemas.
Certo dia ficou sabendo por um conhecido que havia um Senhor já de idade que todos diziam ser muito sábio, ele morava no alto da Montanha mais temida por todos da cidade. O Rapaz acreditou que o Senhor pelo menos podia o entender, sem ao menos o conhecer, mas ele também devia ser solitário, pois morava sozinho no alto de uma montanha. Arrumou suas coisas, e esqueceu seu medo de seu desprezo pelo amor, foram horas e horas de caminhada , passou por momentos de perrigo, e muitos. Mas ele desistiu no meio do caminho? não. Já que começou ele tinha que ir até o fim. Certo que sentia um pouco de receio, até se perguntava ao meio do caminho o que estava fazendo, ele nem ao menos conhecia aquele tal "Senhor".
Quando chegou ao alto da montanha, avistou uma casinha, a porta estava meio aberta e saia fumaça da chaminé. Se aproximou ainda com receio, mas nem sabia o nome do homem. Bateu três vezes na porta, ouviu uma voz que saia lá de dentro: - Entre entre. O rapaz assustado um bocado entrou na ponta dos pés, então deu de cara com o tal Senhor Sábio em sua cadeira de balanço. Antes mesmo de qualquer apresentação, o velho disse assim: - É o amor, não é?. Então o Rapaz logo respondeu: - Sii si sim Senhor, acho que é o amor. O velho pareceu tão natural: - Amor, amor, amor. As pessoas passam tanto tempo com o coração tão sozinho que ele se torna oco e cada dia mais solitário, mas são poucos os que sobem uma montanha tão alta atrás de um pobre velho que nem ao menos sabe o nome, isso só para perguntar sobre o Amor. O rapaz não conseguiu nem ao menos retrucar o que o tal sábio dizia. Olhou bem nos olhos do rapaz e fez a segunte pergunta: - Você é tão solitário quanto parece. E ele logo respondeu: - Acho que sou sim. E o velho rápidamente tomou suas palavras: - Você acha? como uma pessoa pode ter dúvidas sobre a solidão? então te pergunto novamente. É tão solitário quanto parece?. O pobre homem olhava para o velho, suas lágrimas chegavam a tremer aos olhos, pois ele não queria chorar, tinha medo de parecer fraco. E o Senhor mais uma vez perguntou: - É tão solitário quanto parece? E tão fraco quanto vejo em seu olhar? E então o rapaz disse: - Sou tão fraco que tento me fazer de forte, tão solitário que a cada dia me faço acreditar que o amor não existe e sentimentos bons só devemos sentir por nós. E o velho fez mais uma pergunta: - Esse coração é tão egoísta quanto parece ser? E o rapaz, disse assim: - Tenho tanto medo de ser tolo que acabei não ganhando o amor de ninguém, como um pobre cão de rua. Não! Pelo menos o cão de rua está sempre rodeado de pessoas, e eu? eu não tenho ninguém. Meus pais me deixaram logo pequeno, talvez eles não tivessem necessidade de dar amor a mais ninguém, mesmo ao próprio filho. Meus amigos pouco a pouco foram se afastando, talvez eles não aguentavam minhas lamentações sobre o amor e minha vida infeliz. Namoradas? nunca tive, eu tinha tanto medo de amar e não ser amado de novo. Uma vez me apaixonei por uma amiga, tão doce garota, me encantava. Parecia gostar de mim, mas logo após nossa formatura ela partiu com um cara, acho que estavam namorando. Então eu percebi que o que ela sentia por mim era pena, não queria me fazer sentir mais solitário do que já era. Algum tempo depois arrumei um amigo, o nome dele era Tedy, fazia meus dias serem mais alegres, um cão praticamente humano, entende? Mas ele não gostava de ficar dentro de casa, eu percebia, mas não o deixava ao menos ir para o outro lado da porta de entrada, tinha medo de perder o único que me aguentava dia e noite. Então um dia fui até a venda da esquina comprar comida ao Tedy, comprava tudo que achava que ele iria gostar e muitas das vezes ele nem chegava perto. Quando cheguei em casa percebi que a janela da frente estava quebrava, sai pela casa gritando pelo nome do Tedy, ele não estava. Fui até a rua de casa, e a outra, e a outra, acho que vasculhei o bairro todo e nada. Colei vários catazes pela cidade com a foto dele, e mais uma vez, nada. Acho que aquele não era o mundo dele, pois até um cão não gostaria te ter a vida que levo, ele não queria passar o resto de sua vida trancado em uma casa com o homem que só se lamentava, Tedy nem podia falar, só ouvir e não fazer nada, coitado. Depois eu relamente fiquei sozinho, não gosto de ver aquelas famílias felizes durante o domingo no parque, ou aqueles casais de namorados, isso me deixar nervoso e mais solitário. A solidão me ensinou ser duro, egoísta e frio. E agora é aprimeira vez que conto tudo isso a alguém.
Após contar isso tudo ao velho, o rapaz se sentiu assustado, com medo. Se perguntava por quê? por quê? eu não podia contar isso a ninguém, isso me faz sentir mais fraco do que já sou. O velho tinha respostas rápidas e certerias: - Como pode ser tão duro assim? Sua alma deve não aguentar mais todos esses sentimentos ruins, e logo o coração de uma pessoa como você, que no fundo sei que tem sentimentos tão bons e puros. Uma pessoa com sentimentos tão ruins nunca subiria ao alto desta montanha para dividir suas tristes lamentações com um pobre velho que nunca havia visto na vida. Não se engane mais, não se prenda mais. Um coração não merece ser tão metralhado, ele fica em pedaços, pedaços que com o tempo você não irá poder juntar e então ele ficará assim para sempre. Se quer ter amor, se quer o entender, curar a solidão, você só deve libertar-se dela antes que seja tarde.
O rapaz então perguntou: - E como isso? Então o Velho disse: - Ame sem medo, ame mesmo quem não sabe ser amado, e seja feliz apenas por saber que a terra é redonda e mesmo assim não caimos dela, que o sol ilumina nossos dias e nos deixa quentinhos e que a lua enfeita nossas noites e as deixa com um brilho que nos toca a alma. O Rapaz sentiu tanta vergonha, vergonha por desperdiçar tanto tempo de sua vida com algo que não era preciso.
E então o velho percebeu que o rapaz havia entendido tudo o que ele havia dito, e sem ao menos dizer uma palavra, também percebeu que estava pronto para nascer de novo. E antes do rapaz sair afobado pela porta da pequena casa, o velho completou: - A Felicidade só é verdadeira quando é partilhada, meu filho.



Isabelle Dias